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Gabriela Machado – Bicho Solto

27 Aug 2016 – 22 Oct 2016

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Essas esculturas acabaram de surgir, seguem ainda às voltas com o seu aparecimento indefinido. Pedem, assim, um olhar rasante, sem se demorar em detalhes, ao acompanhá-las em seu processo de enumeração caótica. Cada uma delas, no ato mesmo de se individualizar, parece trazer todas as outras consigo. Coladas ao mundo da vida contemporânea, elas existem plenamente de passagem. Somos muitos, às vezes somos até demais, mas, prefiro acreditar, queremos todos ser bichos soltos, imaginativos, inassimiláveis. Com ou sem aura, a arte permanece o lugar social das singularidades. Senão, periga virar apenas mais um desses intragáveis truques publicitários a apelar a um patético (ou ridículo) consumo criativo.

À sua maneira prática, intuitiva, as esculturas de Gabriela Machado não deixam de pôr em discussão o estatuto atual do conceito de Objeto. Coisas produzidas com ardor, irrepetíveis, elas seriam, contudo, voláteis em demasia para guardar identidade consistente. Quanto mais crescem e se avolumam, mais se estranham, não cabem em si mesmas, desproporcionais, torcem e se distorcem, em constante metamorfose. Não há como domesticá-las sob um olhar contemplativo. Há, isto sim, que persegui-las em seu andamento sinuoso, em sua manifestação abrupta, que jamais se completa. Também nós, sujeitos incompletos, somos assim levados a uma atitude positiva de ansiedade estética; porque, enfim, não existe mesmo outro jeito, também nós temos que seguir em frente, a lidar com nossa incessante e problemática autotransformação.

Oriundas da pintura, essas esculturas de cerâmica que, de início, saíam para o espaço quase como pinceladas sólidas foram com o tempo ganhando também o gesso e o bronze sem perder a espontaneidade. Não sabem, não podem saber o que são, só o que teimam em vir a ser. O impulso do fazer prevalece sobre o cálculo formal; o seu ideal consistiria talvez em eludir todo e qualquer aspecto definitivo. Daí o modo coerente como se apresentam em exposição – dispostas meio aleatoriamente sobre uma mesa comprida, em bases provisórias, que pertencem e não pertencem às esculturas. Ora falam, conversam à vontade entre si, ora se distanciam, isoladas em sua unidade formal particular. Já não ostentam, é evidente, a solidão heróica das figuras clássicas de Giacometti e sua incomunicabilidade existencialista. Mas tampouco se rebaixam a ícones banais da prolixa indústria de arte contemporânea. Atendem a outra demanda, menos conspícua, menos comunicacional: potencialmente, atuam sobre imaginários independentes, procuram atrair percepções estéticas atentas e qualificadas, alheias a destinações prévias.

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