Renée Gagnon | MU SEKE 75

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Esta mostra traz pela primeira vez a público o projecto na sua totalidade – parte do catálogo fotográfico e documentos de época – e combina documentação sociológica com expressão artística, reflectindo a fascinação da artista pelos motivos geométricos e cores vibrantes utilizadas nas construções frágeis dos musseques. 

Em 1974 Gagnon chega a Luanda com uma bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian para desenvolver a pesquisa documental e plástica, iniciada dois anos antes com o projecto “Paliçadas dos Musseques de Luanda”. Parte desta pesquisa já tinha sido exposta em Luanda e no Lobito, mas a série fotográfica e os arquivos da artista continuam inéditos. 

Musseque, palavra que deriva do kimbundu, designa os terrenos arenosos à volta da cidade de Luanda, e os bairros sub-urbanizados que se estendem à volta da cidade desde o século XVIII, quando da sua primeira configuração urbana. Na primeira metade do século XX os bairros crescem para albergar trabalhadores na construção das infraestruturas da cidade colonial, e expandem-se com o desenvolvimento industrial. 

O trabalho fotográfico de Renée Gagnon regista o início da formação destes bairros, e das estruturas construídas com uma diversidade de materiais recuperados e readaptados, que revelam o seu cariz simultaneamente resistente e frágil. Usando o preto e branco e um enquadramento quase sempre frontal, a artista usa a fotografia como um mecanismo para a classificação visual dos espaços que percorre – captando e catalogando de forma sistemática e quase sociológica ruas, becos, muros, portas, janelas, paliçadas e materiais. Estas imagens foram quase todas recolhidas em Dezembro de 1975, numa situação de urgência, dado que a Guerra Civil tinha rebentado nos Musseques. Renée teve a ajuda de um guarda, à paisana, para poder circular nas ruelas e nos becos, e o apoio da população. 

À luz das transformações da cidade e dos estudos/discursos sobre a formalidade/informalidade, sobre materiais e sustentabilidade, a obra de Renée Gagnon dialoga sobre temas actuais, abre espaço para uma reflexão mais ampla sobre o passado, mas também sobre o presente, sobre sobrevivência, memória e exclusão.